quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Continuação em outro nível.

...

- Então, isto é... o paraíso.

- Paraíso. Terra Natal, Colheita, Terra do Verão – ele falou entusiasmado – Você escolhe o nome.

- É um país? Um estado?

Ele sorriu.

- Um estado de mente.

Olhei para o céu.

- Nenhum anjo – falei, consciente de que falava meio sério, meio brincando.

Albert riu e perguntou:

- Consegue imaginar algo mais incômodo do que asas presas às suas costas?

- Então, eles não existem? – De novo, senti-me ingênuo por perguntas, mas estava curioso demais para reprimir a pergunta.

- Eles existem se alguém acredita neles – disse, confundindo-me de novo – Como falei, é um estado de mente. O que diz aquele ditado que você tem pendurado na parede? “Aquilo em que você acredita torna-se seu mundo”.

Tive um sobressalto.

- Você sabia sobre isso? – perguntei.

Ele moveu a cabeça.

- Como?

- Explicarei em um minuto. Mas agora gostaria apenas de lembrar que o que você pensa torna-se seu mundo. Você pensava que isso implicava-se apenas à Terra, mas se aplica ainda mais aqui, pois a morte é um redirecionamento da realidade física para a mental – um ajuste para campos mais altos de vibração.

Eu tinha uma idéia do que ele falava, mas não tinha certeza. Acho que isso estava estampado no meu rosto pois ele sorriu e perguntou:

- Achou obscuro? Pense deste modo então: a existência de um homem muda quando ele retira o casaco? Ele também não muda quando a morte remove o casaco do seu corpo. Ele ainda é a mesma pessoa. Não é mais sábio. Não é mais feliz. Não é melhor. É exatamente o mesmo. A morte é meramente a continuação em outro nível.


Livro – Amor Além da Vida de Richard Matherson.

O contrário da Morte - Martha Medeiros

O CONTRÁRIO DA MORTE

Acabei de ler Milagre nos Andes, o relato impressionante de Nando Parrado, um dos sobreviventes daquele célebre acidente aéreo que aconteceu trinta anos atrás e que deixou vários jovens uruguaios perdidos no meio da cordilheira, sem comida, sem comunicação, sob temperaturas gélidas e tendo que se alimentar da carne dos colegas mortos. Agora um deles conta em detalhes como foram aqueles 72 dias de luta pela vida, num livro que se lê fácil como se fosse uma reportagem e que faz a gente se perguntar: do que, afinal, tanto reclamamos, se temos água, pão, cobertor e afeto?
Afeto, na verdade, é uma palavra soft, amor é mais contundente. Nando Parrado se propôs a mostrar que, se a morte tem um oponente, não é a vida, é o amor. É a única coisa que pode fazer alguma diferença diante da magnitude da morte, da onipresença da morte, da longevidade da morte: sim, porque a morte, a partir do momento que ocorre, passa a ter um período de duração infinito, e antes de virmos ao mundo ela também já existia nessa mesma infinitude de trás pra frente. Onde estávamos antes de nascer? De certa forma, mortos também. Nossa vida é apenas uma pequena brecha de tempo entre duas ausências acachapantes. E para justificar esse breve intervalo de vida e enfrentar a soberania da morte, só mesmo amando.
Tem se falado pouco de amor, virou uma coisa meio piegas, antiga. Hoje cultua-se muito mais a paixão e demais sentimentos vulcânicos, aqueles que fazem barulho, que inspiram loucuras, que causam polêmicas, que atormentam, 102 que dilaceram, que fazem as pessoas se sentirem, ora, vivas. O filósofo romeno Cioran disse que é melhor viver em frenesi do que na neutralidade, e tem razão, vigor é algo de que não podemos abrir mão.
A questão é que nada é mais vigoroso que o amor, esse sentimento que erroneamente relacionamos com comodidade e mornidão, tudo porque associamos amor ao casamento: esse sim pode vir a se tornar algo acomodado e morno. O amor pega essa carona injustamente.
Amor não é apenas o que aproxima um homem e uma mulher (ou dois homens ou duas mulheres). Amor envolve pais e filhos, envolve amigos, envolve uma predisposição emocional para o trabalho, para o esporte, para a gastronomia, para a arte, para a religião, para a natureza, para o autoconhecimento. Amor é um estado de espírito que nos move constantemente, é uma energia que não se esgota, é a única coisa que faz a gente levantar de manhã todos os dias sem entregar-se para o automatismo, é o que dá algum sentido para este hiato entre duas mortes. Isto não é vulcânico? Ô. Parece sermão de padre, parece texto de romancezinho barato, parece muito piegas, sim, mas e daí? Nando Parrado só conseguiu sair do meio da neve e do nada porque pensava dia e noite na dor que seu pai estaria sentindo. Outros sobreviventes só conseguiram suportar o frio, a fome e o desespero porque tinham quem esperasse por eles do outro lado da cordilheira. Tiveram sorte, coragem e inteligência para transpor os obstáculos, e venceram, mas o próprio Nando admite: não houvesse um sentimento, pouco adiantaria.
Nós, com nossos obstáculos infinitamente mais transponíveis do que a cordilheira, deveríamos experimentar mais deste viagra motivacional chamado amor. E azar se parecermos cafonas.


livro: Doidas e Santas de Martha Medeiros - 3 de setembro de 2006.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Fotografando estrelas!

Fotógrafo australiano registra rastro de estrelas no céu.

O australiano Lincoln Harrison fotografou o rastro que as estrelas deixam no céu durante a rotação da Terra.

Cada imagem precisou de um período de 13 a 15 horas de exposição para ser capturada.

Ele acampou nas margens do lago Eppalock, no Estado de Victoria, no sudoeste da Austrália, para fotografar.

Harrison, 36, diz que frequentemente permanece desde o pôr do sol até o amanhecer em um mesmo lugar para conseguir uma foto.


por Lincoln Harrison


Eu adorei esse trabalho do Harrison, ficou algo realmente lindo de se ver, achei maravilhoso!
Vou experimentar fazer isso um dia :p

Materia tirada da Folha. http://folha.com/no968764